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A vaqueirada do Boi Caprichoso é um dos grandes exemplos de inclusão. Os guardiões do boi Negro de Parintins reúnem um grupo diverso e, expressivamente, representativo. Um vaqueiro com autismo, uma mulher vaqueira e um vaqueiro LGBTQIAP+ são fortes exemplos desta vaqueirada inclusiva no Festival Folclórico de Parintins. O item 18 do Povo Caprichoso expressa bem a gestão do presidente Jender Lobato, que valoriza a nação azul e branca.

Os vaqueiros azulados proporcionam inclusão e diversidade. Historicamente, um homem com autismo, uma mulher ou um homossexual, normalmente, não participam da vaqueirada, que devido ao tamanho e peso das lanças é tido como um item masculino. Porém, o Caprichoso tem como grande característica a inovação e isso ajudou o bumbá a quebrar mais um tabu e dar mais espaços e oportunidades para todas as pessoas.

O fato não muito comum no festival chamou a atenção do coreógrafo da vaqueirada, Jorge Fontinelli, que aceitou o desafio e abriu as portas para que qualquer pessoa apaixonada pelo Caprichoso pudesse participar. “Ficamos surpresos com o desejo dessas pessoas em participar de um item que, normalmente, é formado por homens mais velhos, mas também ficamos felizes por perceber que o item vaqueirada é muito querido na cidade e que podíamos abrir um novo momento no Caprichoso. Então, abrimos os braços para todos, independente de cor, gênero, idade. O importante no Caprichoso é ter amor pelo boi e confiamos plenamente em cada um deles”, destacou.

Incluir para unir e vencer

Para o presidente Jender Lobato, o Povo Caprichoso é diverso e todos tem espaço no bumbá. Ele afirma que a maior força do bumbá é, justamente, sua gente em suas mais variadas formas. “Temos uma toada que fala justamente de todas as formas de amor e o Caprichoso sempre abraçou todo mundo. O povo Caprichoso é um só, mas é diverso e essa diversidade é nossa força. Aqui não excluímos ninguém. Valorizamos todas as pessoas, até porque o Caprichoso é um boi construído à muitas mãos. É um boi feito de amor e povo”, afirmou Jender.

Não há limitação para quem ama o Caprichoso. O jovem vaqueiro David Thiago Garcia, 21 anos, é prova disso. Ele tem autismo e surpreendeu a família quando disse que queria brincar na vaqueirada do boi campeão. A família apoiou e David procurou o coreógrafo Jorge Fontinelli. Com o cuidado necessário, Jorge conversou e deu espaço ao rapaz, sempre acompanhando de perto o desempenho de David, que novamente surpreendeu. David consegue ensaiar e realizar toda a coreografia como os demais vaqueiros e assegurou seu cavalinho para viver seu sonho na arena do bumbódromo.

“Desde criança eu tenho esse sonho. Eu estava bastante nervoso e com muita ansiedade no primeiro dia. Eu estava muito preocupado se eu ia aguentar carregar a lança, porque eu ouvia as pessoas falar ‘ah você não vai conseguir carregar lança, é pesada’, aí eu botava isso na minha mente, mas eu não desisti. Esse ano eu vou entrar na arena, vou brincar na melhor vaqueirada, no melhor item do festival e se Deus quiser a gente vai ser bicampeão”, disse entusiasmado o jovem.

Em 1998 o Boi Caprichoso inovou, levando para a arena do bumbódromo a primeira vaqueirada somente de mulheres, que representavam as guerreiras Amazonas em seus cavalos. Em 2023, o Boi Negro de Parintins inclui novamente a mulher em um item fortemente dominado pelos homens. Ayra Silva, 29 anos, vai ser a única vaqueira a empunhar uma lança no bumbódromo em 2023, quebrando tabus e preconceitos.

O avô de Ayra brincava na vaqueirada, de quem herdou a paixão pelas lanças azuis. Em 2021, ele adoeceu de Covid-19 e faleceu. Para homenagear o avô e realizar um sonho, Ayra fez uma promessa: de brincar pelo avô e, ao mesmo tempo, realizar um sonho. “É um sonho, é um desejo, é uma promessa também que eu fiz pro meu avô. Já me falaram muitas coisas, disseram que eu não ia conseguir, porque a lança é pesada e que não tinha mulher na vaqueirada. Aí eu disse que vou mudar essa trajetória, essa história, nem que seja pra me trazer mulheres pro ano que vem. Isso é uma forma de trazer elas também”, disse Ayra encorajando mais mulheres a participar do item 18.

O azul da vaqueirada também tem o colorido representativo e atuante da diversidade. Cássio Rodrigo é homossexual e representa a comunidade LGBTQIAP+ na vaqueirada. “Tem aquele pensamento de que vaqueirada é só para hétero, só homens maduros e não é isso. A vaqueirada é um grupo que acolhe todas as pessoas e vocês podem ter certeza que realmente aqui nós somos uma família e o Boi Caprichoso acolhe independente de gênero. A gente se sente muito feliz e ao mesmo tempo orgulhoso de estar participando de um grupo bem reconhecido. Estamos aqui numa só luta”, concluiu Cássio.

Fotos: Michel Amazonas

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