Apesar das falas duras, o clima foi no geral moderado, com ambos mantendo o tom de voz baixo, esboçando sorrisos irônicos, evitando agressividade e se movimentando em direção às câmeras para conversar com os eleitores.
Lula reforçou mensagens para atacar incompetência do rival e má gestão na pandemia de Covid-19 e na economia, enquanto Bolsonaro insistiu na estratégia de vincular o petista à corrupção. O ex-presidente repetiu críticas à Operação Lava Jato, que o levou à prisão -suas condenações foram depois anuladas.
Apesar das falas duras, o clima foi no geral moderado, com ambos mantendo o tom de voz baixo, esboçando sorrisos irônicos, evitando agressividade e se movimentando em direção às câmeras para conversar com os eleitores.
Ao longo do debate, Lula pediu quatro direitos de resposta por falas de Bolsonaro que considerou ataques à honra, e um foi concedido. O atual presidente solicitou dois pedidos, que não foram atendidos pela comissão responsável no programa.
O petista acabou administrando mal seu tempo ao longo do último dos três blocos, permitindo que Bolsonaro falasse por mais de 5 minutos ao final.
A estratégia detonada pelo PT horas antes do debate, de vincular Bolsonaro a pedofilia após a fala de que “pintou um clima” com “menininhas de 14 e 15 anos”, foi diluída no debate, depois que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) impediu a candidatura de continuar fazendo a associação.
Bolsonaro afirmou que Lula e aliados são “especialistas em pegar vídeos” e cortar trechos para atacá-lo, em referência indireta ao caso da fala usada no fim de semana contra o presidente. O petista riu e rebateu, dizendo que é o lado do presidente que adota essa linha e distribui fake news.
Lula também aludiu ao episódio ao lembrar que o rival fez uma live na madrugada deste domingo para se explicar sobre a fala. Foi Bolsonaro quem levou o assunto explicitamente ao palco, para acusar a campanha petista de mentir. Ele chegou a ler trechos da decisão do presidente do TSE, Alexandre de Moraes, com quem antagoniza.
A decisão fala em “conteúdo sabidamente inverídico”. O presidente afirmou que Lula tenta atingi-lo “no que eu tenho mais de sagrado, defesa das famílias e das crianças”. O petista usou no terno um broche da campanha Faça Bonito, de combate à violência sexual contra crianças e adolescentes.
No debate sobre desinformação, Lula relembrou disputas eleitorais passadas. “O nível era outro, era um nível civilizado. A verdade sempre prevalecia. A gente debatia o futuro do país”, afirmou. “Mentiroso é você. Você mente todo dia”, disse o petista com o dedo em riste na direção do oponente, a certa altura, prometendo fazer um governo com credibilidade, caso eleito.
Em desvantagem no Nordeste, o candidato à reeleição tentou desgastar Lula com o eleitorado da região com críticas ao petista por não ter finalizado a transposição do rio São Francisco. “O senhor promete o tempo todo. O senhor prometeu levar água para o Nordeste e agora está prometendo picanha e cerveja. O senhor não fica vermelho com essas propostas mirabolantemente mentirosas?”, questionou o presidente.
Lula ironizou “a cara de pau desse cara” ao rebater a fala de Bolsonaro de que ele não entregou a transposição. O petista disse que a maior parte das obras (88%) foi feita nas gestões do PT, que iniciaram o projeto. “Você acha que o nordestino que está vendo a gente na televisão acredita que você levou a água?”, disse, dirigindo-se ao rival.
“A grande verdade: o senhor não fez nada pelo Brasil, a não ser transpor dinheiro público para o seu bolso e o dos seus amigos”, afirmou o presidente.
O petista explorou o descaso de Bolsonaro com a pandemia. O ex-presidente indagou se o rival “não carrega nas costas um pouco do sofrimento dos brasileiros” por ter atrasado a compra de vacinas contra a Covid. “Não quis comprar porque não acreditava”, disse.
Bolsonaro argumentou que não havia vacinas disponíveis inicialmente e lembrou que seu governo comprou mais de 500 milhões de doses. “O Brasil foi um dos países que mais vacinaram no mundo e iniciou a vacinação mais rápido”, disse, ignorando os atrasos no processo.
Lula afirmou que Bolsonaro negligenciou a pandemia e acelerou o número de mortes. “O senhor não cuidou, debochou, riu”, atacou, lembrando momentos em que o presidente “brincou com a pandemia e com a morte”, ao, por exemplo, imitar pessoas sem ar e incentivar o uso da cloroquina. “Você não quis entender o sofrimento do povo.”
O candidato à reeleição retrucou, lembrando afirmação de Lula de que “ainda bem que a natureza criou o coronavírus”.
Bolsonaro usou o tema para introduzir o tema da corrupção, relacionando o PT a supostos desvios durante a pandemia.
“Se você tivesse o mínimo de responsabilidade, você teria primeiro ouvido os governadores de estado”, disse o petista, criticando os escolhidos por Bolsonaro para ocupar o Ministério da Saúde durante a crise. Bolsonaro repetiu a afirmação de que não houve corrupção no caso Covaxin porque as doses não foram efetivamente compradas. Ele falou ainda em “roubalheira” do Consórcio Nordeste, formado por governadores de oposição ao governo e alinhados a Lula.
O presidente introduziu um debate sobre segurança pública e a transferência de líderes da facção criminosa PCC, como Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. Bolsonaro buscou vincular o adversário ao PCC, perguntando se governos petistas não transferiram presos do grupo por “simpatia”.
“Tem relação com miliciano, ele sabe que não sou eu”, respondeu Lula, citando ter entregue cinco presídios de segurança máxima. “Eu acho que a mentira aqui não é minha”, disse o petista.
Bolsonaro insinuou que o ex-presidente tenha “amizade com bandido”, reforçando narrativa que dominou redes bolsonaristas nos últimos dias insinuando que o petista teria feito campanha no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, após acordo com líderes criminosos locais.
“Eu sou o único candidato a presidente da República que tem coragem de entrar numa favela sem colete de segurança”, disse o petista, dizendo que “o Bolsonaro é amigo dos milicianos”. O ex-presidente negou relação com criminosos do Alemão e disse que ali moram trabalhadores e pais e mães de família.
Os dois postulantes evitaram se comprometer efetivamente com o combate a notícias falsas, após pergunta sobre o baixo nível da campanha no segundo turno. As duas campanhas tiveram conteúdos removidos por ordem da Justiça Eleitoral.
Lula relembrou disputas eleitorais passadas, antes de Bolsonaro. “O nível era outro, era um nível civilizado. A verdade sempre prevalecia. A gente debatia o futuro do país”, disse.
Em pergunta sobre as emendas de relator no Congresso, Bolsonaro afirmou ter vetado a medida e listou 13 deputados do PT que receberam a verba. “Eu não tenho nada a ver com o orçamento secreto. […] Eu faria melhor uso”, disse.
“Eu vou tentar confrontar o orçamento secreto e criar um orçamento participativo”, rebateu Lula. “Para ver se a gente consegue diminuir o poder de sequestro do centrão”, completou.
Questionado sobre a insinuação de que trabalharia, caso reeleito, pelo aumento do número de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), Bolsonaro negou concordar com a proposta e ouviu Lula criticar a ideia e relacioná-la ao regime de exceção da ditadura militar (1964-1985).
“Já tivemos experiência na ditadura de mudar a Suprema Corte. […] Não é democrático um presidente da República querer ter ministros da Suprema Corte como amigos”, disse o ex-presidente, acrescentando que os indicados ao STF têm que ter história e biografia. Para ele, mudar a composição seria “um retrocesso que a República brasileira já conhece”.
“Da minha parte está feito o compromisso. Não terá nenhuma proposta, nunca estudei isso com profundidade”, disse Bolsonaro enquanto negava a intenção de sugerir proposta sobre o tema. Uma eventual alteração teria que ser discutida e aprovada no Congresso, mas a questão esbarra em cláusula pétrea da Carta Magna.
O presidente, no entanto, afirmou que a proposta de ampliar a corte é endossada pelo PT e foi tentada por Dilma Rousseff (PT). Bolsonaro ainda afirmou que o adversário só está concorrendo graças à decisão do ministro Edson Fachin, do STF, de anular suas condenações e sugeriu que, em um segundo mandato seu, indicará ministros conservadores, o que levaria a um equilíbrio na corte.
Os dois se desentenderam ao discutirem temas como desmatamento e educação, com guerra de dados. O ex-presidente exaltou feitos de sua gestão, e o atual mandatário tentou desmenti-lo.
O terceiro bloco foi dominado pelo tema da corrupção e do escândalo da Lava Jato. Lula tentou desviar do tema, citando melhorias e crescimento da Petrobras em seu governo. Ele também recorreu a medidas de transparência de sua gestão e contra-atacou expondo os sigilos impostos por Bolsonaro.
“Não tenho nenhum problema de explicar o petrolão e o petrolinho. […] Se houve corrupção na Petrobras, não precisava ter quebrado as empresas. Prendesse quem roubou e deixasse as empresas trabalhando”, disse Lula.
Ao falar sobre o tema, Bolsonaro recebeu ajuda nos intervalos do ex-juiz Sergio Moro, que acompanhava a equipe. O senador eleito pelo Paraná e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, com quem estava rompido, municiou o candidato com dados. O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) também orientou o pai, principalmente com dicas para andar pelo cenário e olhar para as câmeras.
O tema da corrupção consumiu boa parte do tempo, mas o petista conseguiu abordar a economia e o desmatamento da Amazônia, pontos fracos de Bolsonaro. Lula afirmou que o adversário está “brincando de desmatar” e que ele “não teve o menor respeito pela Amazônia”. “O homem de negócio sério não invade. […] Quem invade é bandido. E isso vai acabar”, completou.
O ex-presidente, no entanto, não respondeu a duas perguntas diretas de Bolsonaro: quem será o ministro da Economia em seu governo e se ele pretende adotar medidas de controle da mídia.
Durante o bloco, Bolsonaro consultava suas anotações e ficou em silêncio em diversos momentos em vez de engatar uma fala logo após Lula. O petista, ao contrário, falou muito mais e terminou seus 15 minutos quando o adversário ainda tinha 5 minutos de fala.
Com isso, Lula não teve como rebater acusações de Bolsonaro ligando o petista a Daniel Ortega, da Nicarágua, com o fechamento de igrejas, e Nicolás Maduro, da Venezuela, com o autoritarismo e a miséria.
Lula usou tempo de direito de resposta para trazer à tona as denúncias de rachadinha contra a família Bolsonaro e a compra de imóveis em dinheiro vivo por parentes do presidente.
Nas considerações finais, ele lembrou que reafirmou a liberdade religiosa quando foi presidente. “O meu adversário é efetivamente o cara que tem a maior cara de pau para contar inverdades aqui”, disse Lula, chamando o rival de “pequeno ditadorzinho” por querer aparelhar o STF.
Segundo pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira (14), Lula se mantém à frente na disputa, com 49% dos votos totais, ante 44% do atual ocupante do Planalto.
O primeiro debate em que Lula e Bolsonaro ficaram frente a frente foi em 28 de agosto, também promovido por Folha, UOL, Bandeirantes e Cultura. Na ocasião, ainda no primeiro turno, o petista foi questionado pelo presidente sobre corrupção e desviou da questão.
O saldo final, no entanto, foi negativo para Bolsonaro, que atacou a jornalista Vera Magalhães e foi rebatido por outros candidatos. O tema do respeito às mulheres acabou dominando o programa.
Vera também fez pergunta neste domingo. Ao responder a ela, Lula ironizou o episódio ao dizer que que não iria agredi-la. “Vou me aproximar da câmera, mas não vou te agredir, Vera.” Bolsonaro apenas afirmou à jornalista: “Satisfação revê-la”.
O programa de 28 de agosto também foi marcado por brigas entre aliados de ambos nos bastidores do estúdio. Desta vez, o clima foi mais calmo. A emissora dividiu o espaço destinado aos convidados com grades, separando cada lado.
Em 24 de setembro, o debate presidencial promovido por SBT, CNN Brasil, O Estado de S. Paulo, Terra, Veja e as rádios Eldorado e Nova Brasil foi marcado pela ausência de Lula, criticada pelos demais postulantes. Bolsonaro acabou como o alvo principal dos adversários.
Na TV Globo, a três dias do primeiro turno, os dois protagonizaram intensas trocas de ataques e acusações. Além disso, pediram sucessivos direitos de resposta e desperdiçaram oportunidades de se questionarem. Bolsonaro foi auxiliado por Padre Kelmon (PTB), que travou embate com Lula -o programa chegou a ser paralisado por causa da briga.
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